02 novembro 2014

Perdeste-me, apesar de não teres perdido grande coisa. Reconheço não ser das pessoas mais simpáticas nem agradáveis para convivência, ou até mesmo nem chegar a esse patamar tão desejado por tantos e por tão poucos por mérito alcançado. A raiz do problema não é o facto de eu não querer abandonar o meu lado mais frio, taciturno e remoto; está precisamente no valor que aprendi, no decorrer do meu pouco tempo de experiência, a não transparecer de imediato à sociedade a minha totalidade como sujeito singular, não querer entregar a alguém um livro completamente original que até poderá ser copiado, mas nunca fielmente representado. Entregar ao mundo a nossa essência é a reflexão de um raio de luz num espelho, terá uma consequência eminente dado que ao darmos a conhecer o conteúdo protegido por uma capa, estamos igualmente a refletir a nossa suscetibilidade, as nossas fraquezas e sensibilidades. Eu não sou inatingível, já fui inúmeras vezes atingida e serei para o resto da minha vida. Simplesmente ninguém saberá como me atingiu, como me poderá atingir e o gosto pela insensibilidade parte daqui. Ser insensível não significa que não chore a ver dramas, que não simpatize com bebés ou que ignore por completo alguém em sofrimento, no fundo não deixo de ser um ser humano. Significa apenas que por mais mãos que estenda à sociedade, não fico à espera de reciprocidade. Significa que por mais sonhos que hajam, que são necessários às nossas motivações e ambições nos diversos percursos que se seguem, os pés estão limitados a uma altura de segurança do chão para que não se percam num mundo que só tem o fim que cada um delimita.

E como naturalmente poucas ou nenhumas são as máscaras que me servem, não tenciono agradar todos os que pela vida comigo se cruzam com uma falsa amabilidade, com um sorriso perfeito em dias em que a alma está desfeita, com “quero-te ver bem” mas nunca melhor que a si mesmo. Talvez este seja um caminho que me conduza à solidão, até porque ninguém tem o dever de aturar ninguém. Eu considero um meio de proteção, para que possa conter em mim toda a informação possível através do silêncio e pouca informação minha seja difundida face a alguma palavra vã. 

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