Perdeste-me, apesar de não teres perdido grande coisa.
Reconheço não ser das pessoas mais simpáticas nem agradáveis para convivência,
ou até mesmo nem chegar a esse patamar tão desejado por tantos e por tão poucos
por mérito alcançado. A raiz do problema não é o facto de eu não querer
abandonar o meu lado mais frio, taciturno e remoto; está precisamente no valor
que aprendi, no decorrer do meu pouco tempo de experiência, a não transparecer
de imediato à sociedade a minha totalidade como sujeito singular, não querer
entregar a alguém um livro completamente original que até poderá ser copiado,
mas nunca fielmente representado. Entregar ao mundo a nossa essência é a
reflexão de um raio de luz num espelho, terá uma consequência eminente dado que
ao darmos a conhecer o conteúdo protegido por uma capa, estamos igualmente a
refletir a nossa suscetibilidade, as nossas fraquezas e sensibilidades. Eu não sou inatingível,
já fui inúmeras vezes atingida e serei para o resto da minha vida. Simplesmente
ninguém saberá como me atingiu, como me poderá atingir e o gosto pela
insensibilidade parte daqui. Ser insensível não significa que não chore a ver
dramas, que não simpatize com bebés ou que ignore por completo alguém em
sofrimento, no fundo não deixo de ser um ser humano. Significa apenas que por
mais mãos que estenda à sociedade, não fico à espera de reciprocidade.
Significa que por mais sonhos que hajam, que são necessários às nossas
motivações e ambições nos diversos percursos que se seguem, os pés estão
limitados a uma altura de segurança do chão para que não se percam num mundo
que só tem o fim que cada um delimita.
E como naturalmente poucas ou nenhumas são as máscaras que
me servem, não tenciono agradar todos os que pela vida comigo se cruzam com uma
falsa amabilidade, com um sorriso perfeito em dias em que a alma está desfeita,
com “quero-te ver bem” mas nunca melhor que a si mesmo. Talvez este seja um
caminho que me conduza à solidão, até porque ninguém tem o dever de aturar
ninguém. Eu considero um meio de proteção, para que possa conter em mim toda a
informação possível através do silêncio e pouca informação minha seja difundida
face a alguma palavra vã.
Sem comentários:
Enviar um comentário